ATA DA QUADRAGÉSIMA PRIMEIRA SESSÃO SOLENE DA QUARTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 12-9-2000.

 

 


Aos doze dias do mês de setembro do ano dois mil reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezenove horas e trinta e sete minutos, constatada a existência de quórum, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão Emérito ao Senhor Armando Fraga da Rocha, nos termos do Projeto de Resolução nº 002/00 (Processo nº 0191/00), de autoria do Vereador Guilherme Barbosa. Compuseram a MESA: o Vereador Eliseu Sabino, presidindo os trabalhos; o Capitão Jair Beltrame, representante do Comando-Geral da Brigada Militar; a Senhora Lourdes Marchetti da Rocha, esposa do Homenageado; o Senhor Armando Fraga da Rocha, Homenageado; o Vereador Guilherme Barbosa, na ocasião, Secretário "ad hoc". A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino Nacional e, após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Guilherme Barbosa, em nome das Bancadas do PDT, PPB, PSDB, PMDB, PSB e PFL, discorreu sobre a participação do Homenageado em diversos eventos tradicionalistas ao longo dos anos, destacando a relevante contribuição de Sua Senhoria no sentido de preservar a cultura rio-grandense e justificando os motivos que levaram Sua Excelência a propor a presente homenagem. Na ocasião, o Senhor Presidente registrou as seguintes presenças, como extensão da Mesa: do Senhor Jair Pinto Brum, Patrão do Piquete Ferradura - Zona Sul; do Senhor James Feijó Gomes, Patrão do Piquete Tradição Gaúcha União Fazendária - Secretaria da Fazenda; do Senhor Helder Ricardo Menezes, representante do Centro de Tradições Gaúchas Candeeiro do Sul; do Senhor Clênio Barieli, Patrão do Piquete Guapos da Restinga; dos Senhores Sálvio Marques e Sérgio Oliveira, representantes do Departamento de Cultura Gaúcha Mescla de Guapos da Sociedade Ginástica Porto Alegre - SOGIPA; do Senhor Gustavo Vaconcelos Pochmann, 1º Guri Farroupilha 1999-2000, do Departamento de Cultura Gaúcha Mescla de Guapos da Sociedade Ginástica Porto Alegre - SOGIPA; do Senhor Muniz, representante do Centro de Tradições Gaúchas Estância da Azenha; do Padre Almarinho Lazari, representante do Amparo Santa Cruz; do Senhor José Pepino, representante do Centro de Tradições Gaúchas Roda de Chimarrão; do Senhor João Ribeiro, representante do Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore - IGTF; do Senhor Ronei Gamboa, representante do Piquete Chimango; do Senhor Nilton Otton, representante da 1ª Região Tradicionalista do Movimento Tradicionalista Gaúcho - MTG; da Senhora Vera Otton, Patroa do Departamento de Tradições Gaúchas Lenço Verde da Querência do Teresópolis Tênis Clube; de representantes do Bolicho do Armando. Em prosseguimento, foi dada continuidade às manifestações dos Senhores Vereadores. O Vereador José Valdir, em nome da Bancada do PT, afirmou a justeza da homenagem hoje prestada ao Senhor Armando Fraga da Rocha, tecendo considerações acerca da importância da preservação dos valores histórico-culturais do Rio Grande do Sul e manifestando seu reconhecimento ao trabalho do Homenageado na área da tradição e cultura do Estado. O Vereador Eliseu Sabino, em nome da Bancada do PTB, externou sua satisfação em poder participar da presente solenidade, destacando aspectos atinentes à vida pessoal do Senhor Armando Fraga da Rocha e referindo-se aos valores éticos sempre demonstrados por Sua Senhoria, no sentido de preservar as tradições culturais da comunidade rio-grandense. A seguir, o Senhor Presidente convidou o Vereador Guilherme Barbosa a proceder à entrega do Título Honorífico de Cidadão Emérito ao Senhor Armando Fraga da Rocha. Após, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor Albeni Carmo de Oliveira, que manifestou-se em saudação ao Senhor Armando Fraga da Rocha. Também, o Senhor Presidente registrou as presenças dos Senhores Éverson da Rocha, Samantha da Rocha e Simone da Rocha, filhos do Homenageado. Em prosseguimento, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor Armando Fraga da Rocha, que agradeceu o Título recebido. Em continuidade, o Senhor Presidente informou que o Homenageado recepcionaria os convidados no Centro de Tradições Gaúchas Estância da Azenha. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino Rio-Grandense e, nada mais havendo a tratar, agradeceu a presença de todos e declarou encerrados os trabalhos às vinte horas e trinta e sete minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Eliseu Sabino e Guilherme Barbosa e secretariados pelo Vereador Guilherme Barbosa, como Secretário “ad hoc”. Do que eu, Guilherme Barbosa, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Eliseu Sabino): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada a homenagear o Sr. Armando Fraga da Rocha. Esta Casa faz jus àquelas pessoas que são prestativas a nossa Cidade. Convidamos para compor a Mesa o Sr. Armando Fraga da Rocha, nosso homenageado; Capitão Jair Beltrame, representante do Comandante-Geral da Brigada Militar e a Sr.ª Lourdes Marchetti da Rocha, esposa do homenageado.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.

 

(Executa-se o Hino Nacional.)

 

O Ver. Guilherme Barbosa está com a palavra e falará como proponente desta Sessão, como também representando as Bancadas do PDT, PPB, PSDB, PMDB, PSB e PFL.

 

O SR. GUILHERME BARBOSA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Quero, inicialmente, dizer que esta homenagem ao Armando se deve ao amigo e companheiro que está aqui ao meu lado, o Luís Carlos Padilha, que me trouxe a idéia de fazer esta homenagem ao Armando. Eu, alagoano que sou, vejam os senhores, fiquei pensando: “Mas será que eu, que vim de tão longe, devo fazer esta homenagem ao Armando?” Mas, ao pensar sobre isso, achei que sim, que deveria prestar esta homenagem ao Armando, pelas seguintes razões: a primeira delas, estou há vinte e quatro anos nesta Cidade, neste Estado que escolhi para viver. Eu, inclusive, me considero já um alaúcho, as raízes não perdemos, mas podemos assumir outras, outras culturas, outras cidades, outras relações de amizade. Portanto, metade da minha vida já vivi no Rio Grande do Sul, adotei este Estado e acredito que ele me adotou. Em segundo lugar, lembrei muito que, na minha infância, eu sempre tive uma relação muito forte com o campo, meus avós maternos viviam no interior do nosso Estado, as minhas férias escolares, eu as passava em cima de um cavalo, portanto, comecei a ver que tinha algumas afinidades com esse movimento tradicionalista do Rio Grande do Sul. Em terceiro lugar, o mais importante de todos, foi a própria história do Armando. E por que o Padilha me apresentava, me sugeria esta homenagem?

Eu fui ver um pouco a história do Armando, que eu transmito - talvez não precisasse -, sobre o que ele tem feito na militância de manter as tradições do Rio Grande do Sul.

Então, no início da sua vida, foi posteiro da campanha do CTG Descendência Farrapa, durante dez anos. Há vinte e dois anos é proprietário do Boliche do Armando, lá na Cavalhada, que, além da comercialização dos produtos gauchescos, é um ponto de encontro, principalmente no final do dia, na região sul da nossa Cidade.

Comandou o desfile oficial da Semana Farroupilha no 20 de setembro; a Cavalgada Chama Crioula da SOGIPA; a Cavalgada de Inauguração do Galpão da Sede Campestre do BANRISUL, lá na Ponta Grossa; a 1ª Cavalgada do CTG Roda e Chimarrão, em 1968 - acho que você tinha vinte e um anos -; a 1ª Cavalgada do CTG Descendência Farrapa, em 1986. Comandou por quatro anos a Cavalgada da Integração; a Cavalgada São Cristóvão, em Itapuã, no dia 25 de julho de cada ano; comandou várias vezes a Cavalgada do Mar, pelo SESC, e a Cavalgada Piquete Guapos da Restinga.

Então, é uma história longa na tradição de manter acesa a tradição do 20 de setembro.

Nós escolhemos essa data, próxima do 20 de setembro, de propósito, há o acampamento aqui. Eu acho que se o 20 de setembro, lá naquele 1835, teve uma razão muito forte, uma luta contra o governo central, que escorchava pelos impostos do charque, das propriedades, isolava politicamente o nosso Estado, hoje não é essa questão. Mas, eu penso que é uma questão que não é uma luta contra o governo central. Eu avalio, senhores e senhoras, que é uma luta muito maior, é a luta de nós, brasileiros, gaúchos e rio-grandenses procurarmos manter a nossa história, a nossa cultura e tradição.

Vejam os senhores, se andamos na rua, vemos os nossos adolescentes e crianças com as camisetas escritas: University of Boston, University of Chicago, e, às vezes, não se sabe nem o que é, mas é tudo escrito em inglês. Se ligamos o rádio, e não é na Rádio Liberdade, se colocamos numa estação FM qualquer, o que é que escutamos? Em dez músicas, talvez uma seja brasileira. Músicas gaúchas, mais difícil ainda. Quase todas as músicas são estrangeiras, em inglês. Ora, para que nós mantenhamos uma nação, nós precisamos de um território, de um idioma, de uma moeda, mas, principalmente, precisamos da cultura, da história do povo. Penso que é isso que os senhores fazem. É isso que o Armando tem feito, liderando todo um trabalho. Essa foi a razão principal de eu considerar que, atendendo a uma sugestão, poderia tranqüilamente propor o título de Cidadão Emérito ao Armando Fraga da Rocha. Porque, meus senhores, se não nos dermos conta, iremos perdendo a identidade de rio-grandenses, de gaúchos, iremos perdendo a identidade de brasileiros.

A globalização é inevitável, mas o que temos de evitar é a perda das nossas raízes culturais, a perda da nossa história. Isso nós temos de manter. E não se trata de xenofobia. É o meu caso: eu cada vez me aproximo mais da história do Rio Grande do Sul, mas continuo gostando da minha terra - Maceió, Alagoas, onde nasci. Eu gosto muito das músicas de lá, do xaxado, do baião, dos nossos forrós. Eu tenho os discos do Luís Gonzaga na minha casa, mas escuto também as músicas do Rio Grande do Sul e também músicas de outros países. É importante a troca cultural, mas nós temos de manter a nossa cultura, a nossa identidade. Eu penso que hoje, nestes tempos da globalização, esta é a guerra que nós temos que fazer: não fechar as fronteiras, mas manter a nossa relação. Eu penso que você, Armando, cumpre esse papel. Na verdade, o que registramos é um resumo do seu currículo, mas, mesmo assim, é longo currículo de serviços prestados às tradições do Rio Grande do Sul, às tradições gauchescas. Nós temos de manter essa chama.

A proposta desta homenagem foi aprovada por unanimidade na Câmara Municipal de Porto Alegre e também recebeu a fala, em sua defesa, do Ver. Sabino e, se não me engano, também do Ver. Reginaldo Pujol. A Câmara aprovou por unanimidade esta homenagem para que um porto-alegrense receba o Título de Cidadão Emérito. Cidadão Emérito significa uma pessoa destacada, que presta um serviço relevante à nossa Cidade, e eu avalio que isso tenha, de fato, acontecido, e por isso apresentei a proposta deste título, que foi aprovada por unanimidade desta Câmara, e hoje tenho a satisfação de fazer esta entrega.

Quero-te dar um recado trazido pelo Helder, o Patrão do CTG da CEEE, de que o Vilmar Romera, que está em cavalgada no Piquete do Seival, com cerca de cem pessoas, te mandou um abraço e eu o transmito.

Em nome da Cidade, em nome da Câmara Municipal, quero-te agradecer pelo trabalho que tens feito nessa direção. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Eliseu Sabino): Registramos as presenças, como extensão da Mesa, do Patrão Jair Pinto Brum, do Piquete Ferradura - Zona Sul; do Patrão James Feijó Gomes, do Piquete Tradição Gaúcha União Fazendária - Secretaria da Fazenda; do Sr. Helder Ricardo Menezes, Representante do CTG Candeeiro do Sul; do Patrão Clênio Barieli, do Piquete Guapos da Restinga; do Sr. Sálvio Marques e do Sr. Sérgio Oliveira, Representantes do DCG Mescla de Guapos SOGIPA; do Sr. Gustavo Vasconcelos Pochmann, 1º Guri Farroupilha 1999/2000 - DCG Mescla de Guapos SOGIPA; do Sr. Muniz, do CTG Estância da Azenha; do Padre Almarinho Lazari, do Amparo Santa Cruz; do Sr. José Pepino, Representante do CTG Roda de Chimarrão; do Sr. João Ribeiro, representante do Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore; do Sr. Ronei Gamboa, do Piquete Chimango; dos membros do Bolicho do Armando; do Sr. Nilton Otton, representante da 1ª Região Tradicionalista do Movimento Tradicionalista Gaúcho; de Vera Otton, do Departamento de Tradições Gaúchas Lenço Verde da Querência.

O Ver. José Valdir está com a palavra e falará em nome do seu Partido, o Partido dos Trabalhadores.

 

O SR. JOSÉ VALDIR: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Homenagear o Armando Fraga da Rocha, é, num certo sentido, refletir e homenagear também a nossa história, a nossa cultura, já que o Armando tem um longo currículo de serviços prestados à causa do tradicionalismo, como já expôs o Ver. Guilherme Barbosa que me antecedeu na tribuna. Sabemos quão difícil é lutar nos tempos atuais para resgatar as nossas raízes culturais, porque vivemos tempos muito difíceis, tempos de globalização, tempos de muita incompreensão. Há uma incompreensão muito grande a respeito da nossa cultura, das nossas raízes. Cito apenas um exemplo que vivi dentro das escolas como professor e que lembro, cada vez que chega a Semana Farroupilha, em que vestiam os alunos de caipira, inclusive ridicularizando com um outro tipo popular que não é daqui, e fazendo uma brutal confusão entre o que é nosso e o que é de fora, num momento em que era para homenagear a nossa história, a nossa cultura. Felizmente, isso está sendo superado aos poucos, superado muito graças ao combate a esse tipo de confusão que o movimento tradicionalista tem feito, esclarecendo essa confusão, tentando separar o que é cultura gaúcha e o que não é.

Depois, existe uma incompreensão também a respeito do conteúdo da nossa cultura. A nossa cultura é extremamente rica e plural, temos a influência negra, a indígena, do imigrante italiano, do imigrante alemão, do imigrante polonês, e temos a cultura gaúcha, mais ligada à fronteira. É um Estado extremamente plural e rico.

Outra incompreensão é a respeito dos valores da nossa cultura. Se é verdade que nessa nossa história, e as histórias dos povos nunca são histórias puras, porque elas são exatamente histórias que se oriundam de conflitos como vivemos muitos aqui, no Estado, conflitos, lutas libertárias inclusive, elas são histórias contraditórias; se é verdades que nós temos alguns elementos da nossa cultura como o machismo, nós temos elementos extremamente importantes de serem resgatados nesses tempos em que o individualismo se exacerba no mundo inteiro, como por exemplo, nós temos, aqui, na nossa cultura, o valor da hospitalidade. Todos nós, principalmente quem veio do interior, vivenciou isso na família, ensinado pela família, a hospitalidade gaúcha, receber de forma hospitaleira inclusive os inimigos, a hospitalidade, a fraternidade, e um valor que talvez nenhuma cultura, neste País, desenvolveu com tanta veemência, como o valor da liberdade. Nós, gaúchos, baseados nessa história de lutas, por termos muitas vezes que defender esta parte sul, às vezes esquecida, deste vasto continente chamado Brasil, nós desenvolvemos um profundo senso de defesa da liberdade, nós amamos a liberdade. Isso tudo faz com que a nossa cultura seja extremamente rica e também, num certo sentido, ela esteja na contramão do que nós estamos, hoje, observando no mundo. Nós aprendemos a respeitar os outros a partir da valorização do que é nosso porque nunca vamos poder respeitar as outras culturas se não valorizarmos o que é nosso. Até houve alguém que disse: “Se queres ser universal, pinta a tua aldeia”. É a partir da valorização dos nossos ideais, dos nossos elementos culturais, da nossa história que aprendemos a respeitar as dos outros, e não como quer fazer a globalização, que querem impor ao mundo inteiro um pensamento único, matando e destruindo a especificidade, a singularidade e a cultura dos povos. Por isso é tão difícil, hoje, afirmarmos as nossas tradições, porque estamos, em um certo sentido, na contramão da história, quando o mundo inteiro é tomado por essa avalanche de tentativas de impor o pensamento único, o gosto único, o consumo único. Por isso que afirmar a cultura gaúcha, defender como vocês estão fazendo, é levar uma luta de resistência cultural!

Felizmente, o meu partido, o Partido dos Trabalhadores, se deu conta disso de uns anos para cá, e nós montamos um núcleo dentro do partido, de tradicionalistas e nativistas do PT, exatamente porque há pessoas simpatizantes dentro do partido. Sinto-me honrado de ser um participante, não muito assíduo, é verdade, fundador desse núcleo, porque queremos trazer essa discussão - e já estamos trazendo - para dentro do partido, de resgatar e fazer o partido abrir-se para essa realidade.

Outro dia eu disse aqui da tribuna que só nos damos conta do valor da terra quando saímos do Estado. Quando eu era jovem, e foi o meu despertar, fiquei um mês fora em um congresso, atravessei de ônibus o Rio Mampituba e ali ouvi uma música gaúcha, fiquei arrepiado, e me deu saudades do pago, saudade da nossa querência. Quando saímos fora do Estado é que nós sentimos a profunda força. E nós vemos, muitas vezes, lá fora, como eles valorizam a nossa cultura e nós nos damos conta de que isso está no sangue, na nossa alma. Muitos não descobriram. E é por isso que esse movimento é importante, para fazer com que as pessoas se dêem conta. Também o nosso Partido, aos poucos, está percebendo esta realidade, em primeiro lugar, a força desse movimento, porque hoje, na periferia de Porto Alegre, que é uma cidade plural, aberta a todas correntes e tendências, que é uma cidade de sambistas, também, grande parte da juventude está participando e aderindo aos CTGs. Eu sei disso pelo exemplo da minha família, e eu confesso que não fiz um movimento intencional, aconteceu naturalmente. Os meus filhos, que eram mais do samba, hoje, eles estão dentro dos CTGs, participando normalmente. E esse movimento, na periferia, tem uma força, porque tem essa coisa telúrica da terra, que toca as pessoas, que toca os jovens. E que bom que isso está acontecendo!

Então, o PT está começando a se dar conta da força deste movimento. A forma de sentir, de cultuar, é das mais diversas maneiras. Eu acredito que o MTG seja uma maneira, não seja a única. O importante é que nós façamos o resgate das nossas raízes.

O segundo elemento do qual nós devemo-nos dar conta é que o projeto político que nós defendemos tem muito a ver com os ideais, com os valores da nossa história, da nossa cultura gaúcha.

Nós defendemos uma sociedade solidária, uma sociedade fraterna. E onde nós encontramos os exemplos de valores, uma cultura que veicule, que desenvolva esses valores da solidariedade, da fraternidade, da liberdade? É exatamente a cultura gaúcha, como eu dizia. Nós temos uma identidade muito grande. O projeto da nossa sociedade que nós queremos construir é um projeto que passa pela afirmação desses valores, o valor da liberdade, o valor da fraternidade, o valor da igualdade, que tem muita semelhança, muito a ver com a história do nosso Rio Grande. E, também, tem muito a ver com uma resistência muito grande a essa onda neo-globalizante que vive a humanidade, porque nós queremos afirmar o internacionalismo a partir da valorização da cultura dos povos; não negando, não matando, não destruindo, não reduzindo a escombros as heranças culturais dos povos, pelo contrário, afirmando aquilo que é específico, aquilo que é singular de cada povo para construirmos a grande solidariedade, a grande fraternidade universal.

Eu termino o meu pronunciamento recitando um pequeno poeminha - eu vou dedicar ao nosso homenageado, o Armando Rocha - que eu compus, e eu já disse esse poema por aí, várias vezes, talvez alguns já estejam até cansados de ouvir, mas é bem curtinho, trabalha exatamente esta questão da solidariedade, e diz mais ou menos assim:

 “Dou asas à imaginação / No meu matear matutino / Qual vivente teatino / Lembro guerras e entreveros / Desse meu povo guerreiro / Dos campos e da Cidade / Me custa crer que é verdade / Neste milênio moribundo / Que ainda há gente no mundo / Com fome, sem liberdade / Imagino um mundo novo / Livre do ódio, irmanado  / Sem cancela ou aramado / Somando as diferenças / De sexos, raças e crenças / Sem miséria e opressão / A cuia de mão e mão / A milonga bordoneada / E a humanidade achegada / Na Roda de Chimarrão!.”

 Parabéns, Armando, parabéns a todos vocês gaúchos e gaúchas. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Eliseu Sabino): Convidamos o Ver. Guilherme Barbosa a assumir a Presidência dos trabalhos.

 

O SR. PRESIDENTE (Guilherme Barbosa): O Ver. Eliseu Sabino está com a palavra, em nome da Bancada do PTB.

 

O SR. ELISEU SABINO: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e os demais presentes.) Inicialmente, é para mim uma satisfação muito grande poder usar da palavra neste momento, quando aqui está sendo homenageado um amigo, o Armando; e como nós nos conhecemos desde a infância, o Armandinho e eu tínhamos cabelo quando nos conhecemos, ele ainda tem um pouco mais. Fomos guris juntos, fomos crianças juntos, lá no bairro Cavalhada. Ele, junto com o pai dele, em saudosa memória, o Sr. Armando, tínhamos uma afinidade muito grande, as famílias criadas juntas; ele com um restaurante, os mais antigos da Cavalhada se lembram, eu com o meu pai, na barbearia, trabalhando - muitos dos que estão aqui eu cortei o cabelo. E hoje, estou deveras sensibilizado, estou maravilhado por poder trazer a esta Casa um amigo, e, sem sombra de dúvidas, temos que, de pronto, destacar a iniciativa do Ver. Guilherme Barbosa, esse amigo que, como disse, é “alaúcho”, mais para “úcho” do que para “ala”, está conosco há muitos anos, um Vereador brilhante nesta Casa, bem como o Ver. José Valdir, que é tradicionalista, que conhece as lides do nosso tradicionalismo.

Armandinho, estamos honrados com a tua presença. Nós nos criamos juntos, mas destacar o tradicionalista Armando da Rocha, está nos papéis, está nos atos, na vida do Armando. Eu descobri que o Armando era tradicionalista, que gostava, que era inclinado à tradição gaúcha quando ele rompeu com o seu comércio de restaurante e abriu o Bolicho do Armando. Eu falei com ele: Armando, será que vai dar certo isso aí? Mas acontece que o tradicionalismo não estava apenas no comércio. O Armando, mesmo com o restaurante dele, já era tradicionalista, já tinha o desejo de estar no campo, com a sua bombacha, com a sua bota, enfim: este é o Armando que conhecemos! Hoje, é uma justa homenagem, Armando, Lurdes; é grande a nossa alegria de estar aqui com vocês.

Eu extrai uma mensagem, que acho importante, que é uma comparação das origens, uma colméia e o tradicionalismo. É feita uma analogia entre uma colméia de abelhas e a tradição dos gaúchos e aí chega-se a algumas comparações interessantes: “Em todo o nosso Estado do Rio Grande do Sul, e até fora dele, estão espalhados os centros de tradições gaúchas que são os núcleos que cultuam as nossas tradições. São compostos de patronagens, peões e prendas. As colméias também estão espalhadas pelas mesmas regiões e são compostas de rainhas, zangões e operárias. Tanto no centro de tradições gaúchas como nas colméias é importante o trabalho em equipe, onde todos buscam o mesmo objetivo. O resultado de um trabalho de um CTG é o culto às nossas tradições gaúchas. O resultado do trabalho de uma colméia é o mel. As tradições gaúchas e o mel não possuem contra-indicações. São excelentes em todos os sentidos. As colméias vão aumentando, surgem novas rainhas, zangões, operárias e formam novos enxames e se desprendem da colméia-mãe e vão formar uma nova colméia. As duas colméias irão continuar e produzir o mel que é de ótima qualidade.”

Portanto, hoje, estamos aqui homenageando Armando Fraga da Rocha. Estamos, aqui, homenageando a nossa tradição. Estamos, aqui, levantando a bandeira do gaúcho, - eu digo que sou gaúcho do asfalto, porque nasci e me criei em Porto Alegre; desde criança conheço esta Cidade, mas, como falou o Ver. José Valdir, é conhecida a nossa tradição fora do nosso Estado. Eu estive cinco anos morando no Estado do Rio de Janeiro e quando lá explicava que era gaúcho, lá - não aprendi aqui, mas lá - tive que aprender a assar o churrasco, lá eu tive de tomar um chimarrão porque a tradição gaúcha está além das fronteiras do nosso Estado. Portanto, manter viva a chama de nossas tradições gaúchas, divulgar e trazer junto a si os jovens, os peões e as prendas que estão junto com as suas famílias, que gostam de uma vida saudável, cheia de carinho e de amor, é realmente o nosso princípio e do nosso coração. Armando, Armandinho, meu amigo de infância, meu abraço, meu carinho, parabéns pelo Título que merecidamente esta Casa te entrega através da proposição do nosso Ver. Guilherme Barbosa. Um abraço. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Eliseu Sabino): Convidamos o Ver. Guilherme Barbosa, proponente desta homenagem, para fazer a entrega do Título ao Sr. Armando Fraga da Rocha.

 

(É feita a entrega do Título de Cidadão Emérito de Porto Alegre ao homenageado.)

 

Damos prosseguimento a esta Sessão, ouvindo, agora, do Sr. Albeni Carmo de Oliveira uma declamação de uma poesia, que é feita em nome do homenageado.

 

O SR. ALBENI CARMO DE OLIVEIRA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda componentes da Mesa e demais presentes.) Um chamamento a declamar uma poesia soou aos meus ouvidos tal qual os clarins farroupilhas de 35, onde o menor torna-se um gigante. O cerimonial marcou uma poesia. Meu amigo Armando,  uma incumbência de agradecer aos Edis desta Cidade por uma proposição desse alagoano, que se chama “alagaúcho”, que, como eu,  tem uma raiz cultural tão grande, tão linda que, talvez por aí, através do nosso amigo que tão bem soube dizer, reporto-me à sabedoria, à minúcia do Menestrel das Alagoas, Teotônio Villela; talvez por esse Edil ser de Alagoas tomasse para si essa incumbência tanto quanto eu tomei de agradecer em nome do Armando Fraga essa distinção de Cidadão Emérito de Porto Alegre. E, me transportando à mente do nosso amigo Armando, eu me recordo quando a minha avó me convidou para vir para a Cavalhada para ajudá-la naquele estabelecimento comercial e onde o Armando dava os seus primeiros passos, como bem falou o ilustre Presidente da Casa, neste momento. Amigo, tradicionalista, gaúcho; gaúcho somos todos nós. Como o nobre Edil já disse, em tempos de globalização querem destruir alguma parte. O Armando Fraga da Rocha, desde pequeno, aprendeu uma missão que lhe transmitiram os seus ancestrais: “Se quiserdes destruir um povo, primeiro destrói a sua cultura.” E aí o Armando começou a trilhar. “A minha cultura ninguém irá destruir, nem que para isso eu tenha que trocar o meu comércio, eu tenha que abrir um bolicho, não um restaurante com palavras americanizadas, com palavras que a maioria não entende e que só são bonitas. Não!”, dizia o Armando: “Eu vou abrir um bolicho, eu vou abrir uma casa em que o turista chegue e se sinta realmente em casa, que sorva um bom amargo e que se sinta abraçado pela hospitalidade do povo gaúcho. Não me interessam os lucros, me interessa sim o que eu farei pela mui leal e valerosa Cidade de Porto Alegre, que me acolheu.", dizia o Armando há longínquos anos, já sabendo por que de mui leal e valerosa Cidade de Porto Alegre.

Hoje, neste Palácio Aloísio Filho, aqui está o Armando, agradecendo a esta mui leal e valerosa Cidade de Porto Alegre por ter lhe dado a oportunidade de não ser comerciante, mas de tocar avante as suas idéias, a sua fraternidade, o seu ideal farroupilha de liberdade, igualdade e humanidade. E a humanidade está aí, à testa de uma cavalaria, quando faz uma cavalgada. A humanidade está aí quando distribui um sorriso, uma palavra amiga para acalentar um coração. E a liberdade é o seu jeito de gaúcho estampado como um centauro farroupilha já fazia. Que me sigam os trabalhadores.

Nobres Edis, a homenagem que ora recebe Armando Fraga, é fruto de um trabalho honesto, consciente, com dignidade, é isto que a mui leal e valerosa Cidade de Porto Alegre precisa de seus Edis, é isso que o Rio Grande do Sul precisa de todos os seus legisladores, é isso que o Brasil precisa. Eu preciso mostrar o que eu tenho, preciso mostrar a minha dignidade para ter distinção. Não é em vão que Armando da Rocha recebe este título hoje, ele nunca foi patrono de nenhum CTG, nunca almejou ao posto. E todos nós, companheiros tradicionalistas, sabemos que se o Armando quisesse seria patrono de algum CTG. “Não, eu quero ser um Rosseti, que vou escrever as páginas da História, quero lutar lá atrás. A História vai registrar o meu nome, não sou eu que vou galhardar aos cantos que sou gigante.”

Em nome do Armando e de sua esposa, por esta distinção, valho-me até de um pensamento meu, Armando, que seria teu: “Como posso sentir o calor das tuas mãos se jamais estendi-te as minhas para tocá-las?

Patrão da altura grande, meu patrão velho celestial, abre-te peito bagual da Casa da Prefeitura, mostra tua força e bravura aos quatro cantos do mundo, siga aos mares mais profundos, mostrando ao litoral e à serra que aqui nós não mais queremos guerra. Mostramos que somos capazes, queremos sim amor e paz aos viventes desta terra. Que percorra o mundo inteiro a fibra da gauchada. Levantem de madrugada monumentos aos gigantes, cantem hinos relevantes em palácios de princesas, mostrem então as belezas da nossa mulher gaúcha, mostrem a força desta gente que tanto lutou, legados até dos avós de amor e dignidade, paz, amor e liberdade que um dia alguém nos legou. Gracias pela homenagem, gracias a todos que aqui estão. Os anos se passam, vão, e eu vou-me sentindo feliz, do mundo sou um aprendiz, mas por eu ser cidadão, de todos aperto a mão, com profunda honestidade, paz amor e liberdade, em nome da tradição.” Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Eliseu Sabino): Nós queremos também registrar a presença, nesta solenidade, dos filhos do Sr. Armando da Rocha: a Samantha da Rocha, o Éverson da Rocha e a Simone da Rocha.

Antes de darmos por encerrada esta Sessão, ouviremos a palavra do homenageado.

O Sr. Armando Fraga da Rocha, nosso homenageado, está com a palavra.

 

O SR. ARMANDO FRAGA DA ROCHA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, companheiros, eu não tenho muitas palavras, porque estou muito emocionado. Quero agradecer a todos os meus companheiros, porque se não fossem vocês eu não estaria recebendo este Título. Agradeço a todos os companheiros que têm me acompanhado nessa grande jornada, que é o nosso tradicionalismo, e em especial pelo apoio da minha família. É difícil falar por causa da emoção. Um homem não chora só por tristeza, mas também por alegria. Talvez minhas lágrimas possam transformar-se em orvalho para molhar nossas gramas que servirão de pastagens para os nossos cavalos.

Quero deixar um abraço a todos os presentes, e também aos meus amigos que estão fora daqui, os companheiros de cavalgada e de bailes. Peço aos meus amigos que gritem: Viva o Rio Grande! Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Eliseu Sabino): O nosso homenageado convida a todos para uma recepção no CTG Estância da Azenha, após o encerramento desta solenidade. Finalizando esta Sessão Solene, convidamos a todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Rio-Grandense.

 

(Executa-se o Hino Rio-Grandense.)

 

Estão encerrados os trabalhos da presente Sessão.

 

(Encerra-se a Sessão às 20h37min.)

 

* * * * *